“It takes a leap of faith you gotta show some guts
It takes a leap of faith to get things going
In your heart you must trust”
– Bruce Springsteen – Leap of Faith
Todas as promessas de novidade serão vazias se não mudarmos as coisas de verdade. Com a transformação digital não é diferente. Para ganhar com ela – em vez de se tornar vítima – uma empresa precisa se reposicionar, se repensar e mudar de verdade.
Um exemplo recorrente é a indústria do jornalismo e, em particular, a mídia impressa. Quem acompanha a situação no Brasil e no mundo testemunha que um verdadeiro ‘banho de sangue’ assola grandes grupos de mídia e os torna presas da mudança de paradigma. O New York Times tem mostrado uma luz no fim do túnel nesse cenário de transição para um modelo digital de jornalismo.
Em novembro passado, no Dia de Ação de Graças, o jornal publicou um artigo com o apropriado título “Obrigado, Leitores”. O texto traz um resumo muito claro do problema: “O Times, como o resto da mídia, está sofrendo uma queda de receita de anúncios. A propaganda impressa está encolhendo e grande parte das novas receitas de anúncios digitais está fluindo para apenas duas empresas, Facebook e Google.”
Por isso, segue o editorial, a queda de receita em anúncios impressos não é compensada pelo crescimento em receita de anúncios digitais. Mas em seguida vem uma boa notícia para compensar a queda de faturamento: a receita de assinantes. O crescimento vindo de assinantes puramente digitais (que não recebem o jornal impresso) foi maior que a queda de arrecadação com anúncios. Por isso, a empresa passou a se considerar realmente uma instituição sustentada pelos leitores. Pela primeira vez em quase 170 anos (o jornal nasceu em 1851), o leitor passa a ser considerado o principal cliente da empresa, e não mais o anunciante.
Em meados de agosto, outro artigo confirmou que o New York Times está firme nessa rota de crescimento. Os resultados do último trimestre mostram que dois terços da receita total da empresa agora vêm de assinantes, reforçando que cada vez mais o cliente é o leitor. Dos 3,8 milhões de assinantes, 2,9 milhões são assinantes apenas digitais.
Para atingir esses resultados, a empresa teve de dar um “salto de fé” e reposicionar seus produtos digitais, chegando a cobrar um dólar semanal pela assinatura digital, o que equivale a um décimo (isso mesmo, 10%!) do valor da assinatura anual em papel entregue nos Estados Unidos, que é US$532.
E você, como agiria nessa situação? Ousaria vender uma versão digital do seu produto por 10% do seu valor original ou faria como a maioria: arriscaria menos e chamaria de “transformação digital” um novo app ou uma nova ferramenta de e-mail marketing para mirar melhor no seu cliente e tentar vender alguma coisa?